segunda-feira, 20 de outubro de 2014

da segunda

a boca, sem voz
e os pés doendo
a lembrança do verde
do carinho, do amor
de sentir calor


a mente, sem dor
um sorriso no rosto
hoje estou
um pouco mais rouca
e mais louca

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Uma (pseudo) carta de amor para Holden Caulfield [parte 1]

Quando conheci Holden Caulfield, eu era mais nova do que ele. Meu livro favorito era Lolita, e eu tinha treze anos. Eu tiinha acabado de descobrir que meu celular conseguia ler arquivos de texto e lido meu primeiro livro em inglês. Queria ler outros. Tentei “O Morro dos Ventos Uivantes”, mas exigia um nível de conhecimento da língua que eu ainda não tinha. Como “O Apanhador No Campo de Centeio” é um clássico, decidi lê-lo. Assim como eu faria com “O Grande Gatsby” anos depois, não li sinopse alguma antes de começar a leitura, então não fazia ideia do que começaria a ler.


Em letras miudinhas, porque meu celular tinha uma tela 320 x 240, iniciei uma leitura que mudaria minha vida para sempre.


Não me lembro exatamente quanto tempo levou para ler aquele livro, mas alguns dias se passaram. Eu tenho a tendência de me isolar de tudo e todos quando começo um livro excepcionalmente bom, e com O Apanhador não foi diferente. Uma das minhas memórias mais vívidas dessa leitura é a de estar deitada no chão da sala da casa da minha avó, com o celular grudado no rosto e os olhos já começando a arder, minha vó perguntando se eu ia comer alguma coisa. Olhei para o lado e tinha anoitecido. Passara o dia todo lendo aquele livro e nem tinha visto as horas fugindo.


Eu era praticamente um estereótipo de nerd ambulante: tinha poucos amigos (alguns colegas, talvez), era considerada estranha, usava óculos… O pacote completo. Vi em Holden um amigo, apesar das décadas de separação. Me perdi nas palavras dele, aprendi novas gírias, conheci sua Nova Iorque, me apaixonei por suas ideias.


Em 2010, aos quatorze anos, eu entrei para o ensino médio. Mentalmente, eu vinha me convencendo de que não precisava de amigos, e nem os queria. Lolita não era mais meu livro favorito.


Minha escola tinha (e ainda tem) um mural com notícias pertinentes aos alunos, para serem lidas porque podem ser matéria de vestibular. No meu primeiro dia, a primeira notícia que eu li foi a de J.D. Salinger morrera.


Na época, eu não tinha esse caso de amor por ele que tenho hoje, mas a notícia me deixou um pouco chateada. Eu decidi que releria “O Apanhador No Campo de Centeio” por causa disso. Fazia dois anos que eu não o lia, e achei que talvez pudesse interpretar melhor o que estava escrito no livro, agora que tinha um vocabulário mais extenso de inglês. Já conseguira até ler “O Morro Dos Ventos Uivantes”.


Meu plano de não fazer amigos não deu certo, em parte por culpa de um professor de português maravilhoso, e em parte porque eu sou péssima em cumprir promessas que faço a mim mesma, mas o que importa é que eu e Holden ficamos ainda mais amigos naquele ano, e eu me apaixonei um pouco por ele.


Durante todo esse tempo, eu procurava o livro físico para comprar, mas não encontrava. Rodei todas as livrarias da cidade, mas nenhuma tinha a capa que eu queria, a original. Quando fiz quinze, fui ao cinema com os amigos e achei. Com as mãos trêmulas e chorando, liguei para a minha mãe para pedir permissão para comprar. Meus amigos precisaram inteirar minha passagem para casa naquele dia.


Aos dezesseis, “O Apanhador No Campo de Centeio” não era mais o único livro de Salinger que integrava minha coleção (que, por sinal, estava em constante crescimento). Nesse mesmo ano, quando fiz dezessete, conheci os Glass e completei minha coleção do Salinger. Ver todos os livros lado a lado na minha estante fez com que eu me sentisse muito orgulhosa. De todos eles, meu favorito ainda era o primeiro que eu lera.


Salinger se tornou meu autor favorito quando eu li “A Perfect Day For Bananafish”, e foi então que meu caso de amor por ele se tornou o que é, mas nem mesmo See-more Glass era capaz de desbancar Holden Caulfield do lugar privilegiado que ele ocupava no meu coração.


Só então foi que resolvi conhecer esse querido melhor. Li sobre ele, vi vídeos a respeito de sua simbologia, procurei entendê-lo. E ele me entendeu de uma forma que pouquíssimos personagens conseguiram, mesmo sem querer. Era tudo o que eu precisava de um relacionamento.


Estou relendo “O Apanhador No Campo de Centeio” pela sei-lá-qual vez. Agora, sou mais velha do que o Holden, mas não acho que saiba muito mais da vida do que ele. Memorizei, ao longo desses seis anos, as manias e características dele, já sei prever o que ele vai falar, mas nada diminui o amor que eu guardei para o Holden. A cada página virada, aprendo mais alguma coisa que fugiu de mim nas primeiras lidas. Relê-lo é redescobri-lo.


De todos os moços da minha vida, Holden Caulfield, você foi o que ficou mais tempo. E olha, não quero me despedir nem tão cedo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Cruzadas

Estou convencida de que não vou mais te ver
Porque a vida insiste em dar e tomar de volta
Hoje você arruinou pelo menos dois lugares
Pelos quais sequer passou

Eu tinha muito para perguntar
Se já se adaptou, se sente calor
Fiquei atônita e sorri
“Você
gostou
daqui?”

Talvez sejam dimensões diferentes
Ou eu que espere demais
Talvez você esteja muito à frente
Ou eu que esteja te deixando para trás

Estou convencida de que não vou mais te ver
E memorizei seu sorriso e sua voz
Para o caso de você não reaparecer

(Pensando bem, a cidade não é lá tão grande assim
Quem sabe você não cruza a rua

Para depois cruzar em mim?)