terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Um coração verde

((Uma pequena homenagem ao Mágico de Oz e à Elphaba))

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Ao entrar em seu castelo, fui tomado por um medo absurdo. Eu esperava ser recepcionado por um exército de macacos voadores ou outro animal igualmente exótico, mas a própria Bruxa veio ao meu encontro.

Eu ouvira histórias sobre ela, e imaginava que fosse o ser mais feio de todo o universo. Diziam que ela aterrorizara a tudo e todos na terra de Oz, antes de chegar a Confabula. Olhando para ela, no entanto, eu não conseguia acreditar que ela fosse capaz de uma crueldade sequer.

De frente para mim, estava uma mulher jovem, com os cabelos mais negros que eu já vira na vida e olhos igualmente negros e sem expressão, vestida de preto da cabeça aos pés, desde seu chapéu pontiagudo até suas sapatilhas rendadas. Ela parecia decepcionada com a existência, não ameaçadora. A única característica estranha que eu conseguia ver era que sua pele era... Como dizer? Verde.

Antes que eu pudesse abrir a boca para dizer algo, sua voz ressoou como um trovão pelo castelo.

- Sem pedir “por favor”. - Ela alertou, impassível. - E eu não estou usando truques mentais. Essa sou realmente eu.

Ela se sentou em seu trono, que era adornado por pedras azuis que reluziam no sol que se punha, e tirou os sapatos.

Me ajoelhei de frente para ela, e deixei minha cabeça tocar as pontas de seus pés verdes descalços.

- Fabala, Grande e Poderosa, eu desejo ser livrado da dor de ter um coração que não funciona. Quero um coração que bata.

Ela ergueu as duas mãos e as encostou em meu peito. Eram gélidas, como se ela já estivesse morta. Quando não sentiu batimentos, voltou a descansar as mãos em seu colo. Era uma visão desconfortável, uma mulher tão imponente e fria me analisando.

- Você não conhece a dor de carregar um coração cansado. - Ela me acusou, e eu pude apenas abaixar ainda mais a cabeça e olhar o chão. Eu realmente desconhecia essa dor, minha vida antes do incidente que me deixara sem coração real fora simples e sem grandes acontecimentos para meu coração.

Me preparei para contar a história do Homem de Lata que eu conhecera a caminho de casa, que fora enganado pelo Mágico de Oz e vagava desolado pela floresta de Confabula, quando ouvira meus batimentos e me acertara com seu machado, apenas para substituir seu coração de seda pelo meu, que era vivo. Um dos dedos da Bruxa me calou, me impedindo de contar minha história.

- Eu sei.

Então, algo inesperado aconteceu. Ela atravessou a mão por sua pele e retirou do fundo de seu peito o seu próprio coração. Era uma coisa velha, maltratada, amassada e repleta de remendados por toda a parte. Era verde e brilhava, apesar de ser um brilho fraco, gasto pelos anos. No momento, pintava todo o salão de vermelho e verde, em colorações vivas, enquanto a Bruxa o separava das artérias e veias que o prendiam. O branco dos olhos dela sumiu durante todo o processo.

Eu não sabia como reagir. Ao mesmo tempo, aquele era o coração mais feio que eu já vira, pois fora muito maltratado e abusado, mas era o mais lindo de todos pois era o único verde em todo o mundo e a Bruxa pretendia que ele fosse meu.

Ela o ofereceu para mim, e sua voz soou mais poderosa e mais triste.

- A partir de agora, você vai conhecer um coração real. - Ela arfou, como se perdesse o ar, e apontou para o portão do castelo. - Vá, e para longe!

Eu não ousei desafiá-la. Por mais que quisesse agradecê-la, dizer que eu cuidaria bem daquele coração e que não teria dificuldades em carregá-lo, sabia que não poderia desobedecê-la, então corri.

**

Quando cheguei em meu quarto, coloquei-me de frente para o espelho, tirei a blusa (e a manchei ainda mais daquele sangue bicolor) e abri meu peito com uma de minhas facas de carne, seguindo o corte prévio do Homem de Lata.

Tirei aquele coração de seda que tanto me atormentava e encaixei meu coração novo. Era bonito olhar para meu reflexo, agora completo, e o verde contrastava com a minha pele pálida. Recosturei a pele com única linha que encontrei, que era uma de crochê.

O local ficou estufado por conta da linha, e também porque o coração da Bruxa era um pouco grande demais para mim, mas eu não me importava. Finalmente tinha um coração que batia novamente, podia sentir outra vez.


**

Ele começou a pesar na segunda semana. Senti o peso da insegurança, da tristeza, do desprezo. Eu sentia que não era bom o suficiente, e todas as vezes que passava por Winkie ele começava a arder.

**

O ápice da dor e do desconforto aconteceu cerca de um ano depois, quando conheci uma garçonete na fronteira de Oz. Ela era dona dos olhos mais doces que eu já encontrara, e se aproximava de mim um pouco mais com o passar dos dias.

Em uma das tardes em que eu decidira tomar um café antes de seguir viagem, ela me disse olá e eu senti o coração dentro de meu peito bater como o tambor de um Munchkin. Eu não sabia o que dizer ou o que fazer, mas tive a certeza de que ele se quebraria em mil pedaços caso continuasse ali.

Saí do café, mas o aperto continuou, então corri até meu automóvel e me tranquei ali, esperando a dor passar, mas ela não passou. A cada segundo, ela aumentava, e o coração verde parecia grande demais para mim, crescendo a cada instante, a cada suspiro, a cada respiração. Em meio a um delírio, julguei que a morte fosse um destino melhor do que aquele.

Meu coração novo era cheio de medo. Ele também se sentia sozinho e solitário com muito mais frequência do que eu gostaria, e não gostava que chegassem nele sem avisar. Ele se apaixonava fácil e, ocasionalmente, não sabia como lidar consigo mesmo.

Enquanto chorava – porque as lágrimas não eram opcionais naquela situação -, eu tive que admitir que a bruxa estava certa: eu não conhecia a dor de carregar um coração cansado. Pior ainda: eu não aguentava carregar todo aquele peso. Minhas costas já estavam curvadas para que eu conseguisse carregá-lo.

Dirigi até minha casa e me tranquei no banheiro. Refiz o corte de um ano atrás, e coloquei o coração de seda de volta. Minhas lágrimas secaram no mesmo instante, e eu respirei aliviado. Segurando o coração verde ensanguentado em minhas mãos, pensei no que faria com ele.

Procurei uma caixa de vidro antiga e o depositei ali dentro, onde ficou, exposto em minha sala de estar para quem quisesse ver como era pesado e feio um coração cansado e abusado. Quando minhas visitas o viam, me perguntavam se eu preferiria colocá-lo em mim outra vez ou continuar sem sentir, e minha resposta se mantinha a mesma: era melhor não ter coração do que carregar o fardo de um coração que viveu e amou.


Fim.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Apesar


Inspirado em The Lover’s Dictionary, do David Levithan.


apesar, adv.

Eu acordo pensando em padrões. Minha vida amorosa sempre seguiu a mesma ordem: pessimismo - otimismo - decepção. Certas coisas não mudam e eu acredito que nunca mudarão. Apesar de saber disso, eu continuo insistindo. Continuo tentando. E não sei meus motivos para isso.
Eu te conto sobre isso, e você ri.
“Não seja estúpido”, você me responde, “um dia você receberá um sim”
Você não sabe, mas eu esperava que esse sim fosse seu.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Broken Social Scene e meus queridos 17

Braces yourselves para uma viagem no tempo!

Eu sempre quis ter dezessete anos. Eu gostava de ter dezesseis, mas ficava contando os dias para fazer dezessete. Eu estava no último ano do ensino médio quando isso aconteceu, com toda aquela pressão absurda de vestibular e faculdade e final de ano. Conheci o Broken Social Scene assim.

Na verdade, "conhecer" é o verbo incorreto. Eu conhecia "Lover's Spit', meu hino de salvação, dos momentos de raiva e desespero, mas nada além disso. Me aprofundei no mundo do BSS porque outra música deles, "Stars & Sons", tocou na trilha sonora de "Queer As Folk", um seriado que eu assistia, e cheguei à conclusão de que queria dar uma chance à banda.

O Broken Social Scene é uma banda canadense de 1999. Seguindo a linha de algumas outras bandas indie, o grupo tinha uma rotatividade e uma quantidade enormes de membros, e acabou dando origem a várias outras bandas indie.



Naquela época, um certo projeto fazia sucesso na internet, principalmente no tumblr. Era o asofterworld. O projeto existia, na verdade, desde 2003, mas alcançou sucesso entre 2011 e 2012.


O asofterworld é um projeto que consiste em três quadrinhos mostrando diferentes enquadramentos da mesma foto, com uma(s) frase(s) que fala com a sua alma mesmo sem você querer.

asofterpotter

No tumblr, usavam as frases em fotos de séries e filmes, encaixando perfeitamente com a temática de tal série ou filme. Chegaram a criar templates para facilitar as edições.

Eu me lembro de me apaixonar pelo asw ao mesmo tempo em que me apaixonava pelo "You Forgot It In People", e minhas noites de sexta eram passadas em boa companhia: eu ligava o computador, colocava BSS para tocar, e começava a ler todas as atualizações da semana do asofterworld. Era uma delícia e, surpreendentemente, muito relaxante.

Me apaixonei, inclusive, por "Anthems For a 17 Year-Old Girl". A música é cantada pela vocalista do Metric, a Emily Haines, que fazia parte do grupo na época que esse cd foi lançado. A Feist, que depois explodiu como cantora solo, também era integrante. Até hoje, não sei dizer o que fez com que eu me apaixonasse por essa música, mas sei que eu a ouvia praticamente todo dia, e repetia o refrão quase como um mantra.

Além do asofterworld e do Broken Social Scene, eu estava muito investida em ler fanfics. Não daquelas que você colocava seu nome e o nome de um cara de banda (eu já tinha passado por essa fase), mas sim fanfics de séries. Eu gostava de lê-las porque a) eram um bom modo de treinar meu inglês; b) eram informais, e me ensinavam diversos regionalismos, gírias e afins; c) eram fáceis de ler; d) eram melhores do que o canon dos personagens.

Eis então que eu descobri uma tal fanfic que tinha virado febre entre o fandom de Glee: Little Numbers. Eu tinha uma política de ler exclusivamente fanfics que estivessem finalizadas, mas decidi abrir uma exceção. A história, que é sobre um moço que manda mensagem para o número errado, é toda contada através de mensagens de telefone (vulgo SMS) e telefonemas, e eu devorei a história com lágrimas nos olhos - às vezes por rir, às vezes por chorar.

A frase mais famosa da fanfic, "do you think it's possible to fall in love with the idea of a person?", me perseguiu por um bom tempo após a primeira leitura.




Eu tenho mania de achar que tudo aconteceu ontem. 2003? Pfft, foi ontem. Porém, quando eu sento para reler meus diários ou rever um clipe ou reler uma fanfic, eu penso em como passou muito tempo. Porque às vezes o tempo não é só aquela coisa física, que tem que passar. Às vezes, é psicológico. De vez em quando, eu me pego pensando se 2012 não foi há mais tempo que 2003.


Depois de passar tanto tempo pensando na Ariel de 2012 (aquela que estava endoidando com escola + vestibular, que se preocupava em ajudar todo mundo e fazer todo mundo feliz e que preferia passar um final de semana sozinha com músicas e personagens fictícios), percebi que eu realmente gostaria de viajar no tempo. Talvez para dar alguma segurança a ela, dizer que a pressão dos professores deveria ser ignorada, que as lágrimas - que pareciam tão bobas - iriam valer muito a pena, que amigos de verdade permanecem pós ensino médio. Talvez só para conversar - tenho certeza de que ela adoraria saber como era o mundo da tão sonhada faculdade - mas, com certeza, para dizer que nem tudo muda. Que é possível sim se apaixonar pela ideia de uma pessoa - e que vai partir seu coração quando você perceber que as expectativas e a realidade não combinam - e que algumas músicas nunca deixam de tocar seu coração.

Mesmo que elas tenham sido escritas para uma garota de dezessete anos.





sábado, 6 de dezembro de 2014

6/12


"irritable, adj.: You’ve become the fly in the room – the annoying and unnecessary pester that I cannot avoid."
Fui tomado por uma sensação estranha, que não sei como descrever. Começou com um sorriso um pouco mais longo por algo que você disse, e agora eu me pego memorizando as nuances de seu cabelo.

De vez em quando, meu coração acelerava, o chão parecia querer abrir debaixo de mim e eu não sabia como reagir.

Comecei a pensar em você e, de repente, passei a te ver mentalmente quase sempre, com mais frequência do que gostaria, o que me dava uma certa raiva.

Entrei em pânico. O que era essa sensação? Que coisa mais esquisita!

Então, ficou tudo pior. Eu queria te fazer rir, te encontrar, conversar. Queria te impressionar. E uma outra sensação estranha se juntou à outra, mas essa era uma velha conhecida: o medo.

Alguns dias eram bons. A sensação desconhecida me fazia muito bem. Eu me sentia disposto, feliz, determinado. Como se fosse capaz de fazer qualquer coisa e a vida valesse a pena.

Outros dias eram ruins. Eu mal queria sair da cama, me sentia desmotivado e triste. A ideia de que você jamais olharia para mim me deixava desnorteado. Queria que o colchão me engolisse.

Como uma coisa conseguia ser tão fácil e, ao mesmo tempo, tão difícil?

Às vezes, eu encontrava dificuldades para falar. Não porque eu não soubesse o que dizer, mas sim porque eu não conseguia dizer. Minha língua pesava dentro da boca e não cooperava.

Parei de tentar entender o que sentia e adotei a sensação como amiga. Foi um longo processo, mas cheguei à conclusão de que era a melhor escolha. Ela estaria lá sempre, eu precisava aprender a lidar com ela.

Alguns dias continuam sendo bons e outros continuam sendo ruins, mas não incomoda tanto quando você sorri.

Ache



Quando seu nome aparece na minha tela e tudo o que eu quero é que você me chame para sair mas você não demonstra interesse e eu perco a noção do que dizer e a conversa acaba e eu fico chateada mas você me chama e nós conversamos e você me faz rir e eu queria morar na sua risada mas você não me chama para sair e eu não sei o que quer e você fala do que eu gosto e parece me entender e me traz coisas boas que eu nunca pedi e todas as músicas parecem ter algo com você e você é legal e gentil e me dá carinho sem saber mas eu não sei se você pensa em mim e você não me chama para sair com você e você lê e gosta de coisas estranhas então poderia gostar de mim porque eu sou legal mesmo que um pouco estranha e você nunca se importou e foi até meio louco comigo e eu gosto do seu jeito de falar mas você não me chama para sair com você e eu não quero choramingar mas eu quero sair com você quer sair comigo?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014



A mão dele na mão dela.
- Você acha que alguma criaturinha vive nas nuvens?
- Além de você?
- Ridículo. Estou falando de criaturinhas.
- Fadas?
- Talvez.
- Hm, acho que é possível. E você?
- Não sei. Eu moraria.
- Ou num algodão doce, que é quase a mesma coisa.
- Ah, com certeza.
- Mas você comeria sua casa.
- É verdade. Mas nunca passaria fome.
- Sua casa teria uma cor legal.
-Aham.
- Até você comer o último pedaço.
- Eu teria que morar no palito.
- Coitada.
- Melhor ficar nas nuvens.
- Definitivamente.
- Mas e as chuvas?
- Você gosta de chuva, se acostuma.
- E os aviões?
- 'Cê abaixa a cabeça.
- É uma boa ideia. Acho que vou para lá.
- Justo.
- E você?
- Eu o quê?
- Onde você moraria?
- Onde quer que você more.
- Simples assim?
- Aham.
A mão dela na mão dele.

sábado, 29 de novembro de 2014

Minha avó (paterna)


Tá sumida! O almoço já tá prontinho, lava a mão e vem comer. Tem arroz, feijão fresquinho, aqui tem um filé... Ah, não, você não come mais frango. Ovo você come? Quer que eu faça um omelete? Tem certeza? Então tá, pode se servir. Tá satisfeita? Tô cansada. Deixa vovó tirar a mesa. Sua prima é muito bagunceira, Deus-me-livre-guarde. Quer comer alguma coisa? Tô te achando magra. Você tá comendo direito? Tem que comer. Ainda mais que você não come carne. Tá espirrando muito, tá gripadinha? Deve ser gripe. Eu acho que eu tenho remédio aqui, você quer? Qualquer coisa, eu coloco um Vic na panela e você deita lá na cama. Faz bem. Seu avô tem sinusite, eu sempre faço isso. Sempre fiz isso com você também e dá certo. Tem doce, você quer? Para de bobeira, filho! Quatro horas já, tá na hora da cervejinha. Daqui a pouco tá na hora da novela. Perua, você não vai lanchar não? Je suis cansada. Meu pezinho tá inchado. Trabalhei muito hoje. Hoje eu não parei. Vamos sossegar vocês duas? Filho, cadê minha cerveja? Ui, tá na hora da novela. Filho, depois traz uma cervejinha aqui na sala! Deixa eu fazer um pixiti. Filho, a minha cerveja! Vocês já deixaram tudo arrumadinho? Vão lanchar? A novela voltou, espera aí. Pede pro seu avô trazer uma cerveja. Sua bunda suja! Ai, vovó tá cansada, sabia? Vocês querem comer alguma coisa antes de ir?

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Sobre a arte de pedir

Terminei o livro da Amanda Palmer. Tentei ser o mais objetiva possível na minha resenha, que deve ser postada no Leitores Depressivos em breve, e decidi deixar meu lado sentimental e minhas ideias pós-leitura fluírem por aqui. Porque se tem alguma coisa que eu quero fazer depois de ler esse livro, é compartilhar com o mundo.



Em primeiro lugar, acho que todo mundo deveria lê-lo. Mesmo não sendo fã da Amanda. Porque ela apresenta uma coisa tão bonita, uma ideia de pedir sem medo, de ser mais humano, que acho que todos deveriam aprender.

Dito isso, posso seguir com os meus devaneios.

Preciso dizer que não sabia que ela falava do Neil no livro. Lógico que eu supunha que ela diria uma ou duas palavras sobre o cara da vida dela, mas ugh. Não do jeito que ela falou. Eu simplesmente não aguentei. Eu já estava emocionalmente abalada com o livro, já tinha chorado com uma ou duas passagens em que ela falava sobre pedir e como pedir é um ato de confiança mútua, mas o que realmente me quebrou foi a seguinte passagem:

 "Really. And I've decided something.
What's that?
I've decided that I'm not going anywhere.
Sorry. What?
I'm not going anywhere, he repeated.
I don't know what you mean, Neil.
I mean, he said, speaking more slowly, that I'm not. Going. Anywhere. Even if it takes years. I think I'll stay right here.
Like... here at the corner table? I joked nervously. You mean you're never going to leave Cafe Gitane ever? That sounds very Neil Gaiman-y.
No, he said, plainly. I'll leave this café. But I won't leave you. That's what I mean. I'm not going anywhere." 

Nada que eu possa dizer vai fazer jus ao que eu senti ao ler essa parte. Sempre tive uma pontinha de inveja do relacionamento do Neil com a Amanda (do mesmo jeito que invejo Tim e Helena e Neil e David), mas nunca que eu imaginaria que o começo da história deles tinha sido tão bonito. Suspirei. 

O livro em si é lindo, um manifesto para as pessoas serem, como eu já disse, mais humanas, menos preconceituosas, e aprenderem a pedir e a aceitar ajuda. Deixar o orgulho de lado.

Como o título já diz, o livro The Art Of Asking fala incessantemente da arte de pedir, mesclando com aspectos da vida pessoal da Amanda. O livro me fez pensar.

Assim como Amanda, eu sempre tive facilidade para pedir as coisas (até mesmo absorventes), e sempre consegui me virar quando recebi um (ou mais de um) "não". Por mais que doesse, por mais complicado que fosse, eu sabia que me expor daquele jeito, para pedir, significava que eu poderia muito bem receber um não, e já me preparava para isso.

Não me considero uma pessoa pessimista, mas aprendi a lidar com os nãos que a vida traz. Mas, apesar de saber como pedir, eu nunca fui lá muito boa em dizer não.

Sempre me lembro daquela cena de "Vestida Para Casar" em que o Kevin está bebendo com a Jane e ele tenta ensiná-la a dizer não. Eu sempre fui assim. Sabia dizer não para coisas que eu considerava absurdas, mas para as mais simples (vide a hora que ele pede para beber o drinque dela) eu simplesmente bloqueava. Era como se eu tivesse uma barreira emocional que não me deixava dizer "ei, amigo, isso está me incomodando, então vou te dizer que não".

Não adiantava seguir conselho dos amigos. Não adiantava ouvir todo mundo me dizer para falar não, eu era muito covarde, eu pensava muito "ah, mas essa pessoa me pediu, me perguntou, eu não queria chatear ela", ao mesmo tempo em que recebia "nãos" da vida.

Então, aos poucos, com muita demora e muitos tapas na cara que a vida me deu, eu descobri que a arte de pedir demanda algumas negativas. Se eu simplesmente dissesse sim a tudo, deixasse que todos fizessem o que quisessem comigo, eu passaria por situações que me deixariam mal, que me afetariam de uma forma negativa. E não era isso que eu queria.

Estabeleci duas formas de dizer não. A primeira, bem simples, depende de quem me perguntou: eu gosto daquela pessoa o suficiente para dizer sim? Ela já me disse sim alguma vez? A segunda é aquela em que eu tenho que pensar. Pensar se vale a minha energia dizer sim, se vai me fazer feliz dizer sim. 

Nós estamos acostumados a ver o não como uma palavra muito feia, muito má, muito ingrata, mas nós precisamos de algumas negações na vida para poder aprender a seguir em frente. Precisamos nos valorizar, mesmo que isso signifique dizer não algumas vezes.

E olha, se eu recebi "nãos" repetidas vezes e ainda estou aqui, aquela pessoa para quem eu disse não também consegue se recuperar. 
 

Moral da história: leiam o livro da Amanda, peçam, aceitem o não como um presente e o sim como uma dádiva.

domingo, 16 de novembro de 2014

Derive


Derive
e venha se encontrar
no meu olhar

Desregre
e esqueça a hora marcada
para deixar

Disponha
e materialize a sinestesia
que é te beijar

sábado, 1 de novembro de 2014

tudo bem, meu bem


tudo bem, meu bem
mesmo que o sol nasça
uma hora antes amanhã
que o relógio soe
quando tudo o mais calar
que os seus sentimentos brinquem
de esconde-esconde
com os meus
mesmo que o galo cante
e você não queira dormir
que o voar das borboletas
cause efeito em nós
que tudo seja um pouco demais
mesmo que eu não seja
a certa para você
e que minhas palavras doces
não bastem;
isso também passa
e fica tudo bem,
meu bem.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

da segunda

a boca, sem voz
e os pés doendo
a lembrança do verde
do carinho, do amor
de sentir calor


a mente, sem dor
um sorriso no rosto
hoje estou
um pouco mais rouca
e mais louca

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Uma (pseudo) carta de amor para Holden Caulfield [parte 1]

Quando conheci Holden Caulfield, eu era mais nova do que ele. Meu livro favorito era Lolita, e eu tinha treze anos. Eu tiinha acabado de descobrir que meu celular conseguia ler arquivos de texto e lido meu primeiro livro em inglês. Queria ler outros. Tentei “O Morro dos Ventos Uivantes”, mas exigia um nível de conhecimento da língua que eu ainda não tinha. Como “O Apanhador No Campo de Centeio” é um clássico, decidi lê-lo. Assim como eu faria com “O Grande Gatsby” anos depois, não li sinopse alguma antes de começar a leitura, então não fazia ideia do que começaria a ler.


Em letras miudinhas, porque meu celular tinha uma tela 320 x 240, iniciei uma leitura que mudaria minha vida para sempre.


Não me lembro exatamente quanto tempo levou para ler aquele livro, mas alguns dias se passaram. Eu tenho a tendência de me isolar de tudo e todos quando começo um livro excepcionalmente bom, e com O Apanhador não foi diferente. Uma das minhas memórias mais vívidas dessa leitura é a de estar deitada no chão da sala da casa da minha avó, com o celular grudado no rosto e os olhos já começando a arder, minha vó perguntando se eu ia comer alguma coisa. Olhei para o lado e tinha anoitecido. Passara o dia todo lendo aquele livro e nem tinha visto as horas fugindo.


Eu era praticamente um estereótipo de nerd ambulante: tinha poucos amigos (alguns colegas, talvez), era considerada estranha, usava óculos… O pacote completo. Vi em Holden um amigo, apesar das décadas de separação. Me perdi nas palavras dele, aprendi novas gírias, conheci sua Nova Iorque, me apaixonei por suas ideias.


Em 2010, aos quatorze anos, eu entrei para o ensino médio. Mentalmente, eu vinha me convencendo de que não precisava de amigos, e nem os queria. Lolita não era mais meu livro favorito.


Minha escola tinha (e ainda tem) um mural com notícias pertinentes aos alunos, para serem lidas porque podem ser matéria de vestibular. No meu primeiro dia, a primeira notícia que eu li foi a de J.D. Salinger morrera.


Na época, eu não tinha esse caso de amor por ele que tenho hoje, mas a notícia me deixou um pouco chateada. Eu decidi que releria “O Apanhador No Campo de Centeio” por causa disso. Fazia dois anos que eu não o lia, e achei que talvez pudesse interpretar melhor o que estava escrito no livro, agora que tinha um vocabulário mais extenso de inglês. Já conseguira até ler “O Morro Dos Ventos Uivantes”.


Meu plano de não fazer amigos não deu certo, em parte por culpa de um professor de português maravilhoso, e em parte porque eu sou péssima em cumprir promessas que faço a mim mesma, mas o que importa é que eu e Holden ficamos ainda mais amigos naquele ano, e eu me apaixonei um pouco por ele.


Durante todo esse tempo, eu procurava o livro físico para comprar, mas não encontrava. Rodei todas as livrarias da cidade, mas nenhuma tinha a capa que eu queria, a original. Quando fiz quinze, fui ao cinema com os amigos e achei. Com as mãos trêmulas e chorando, liguei para a minha mãe para pedir permissão para comprar. Meus amigos precisaram inteirar minha passagem para casa naquele dia.


Aos dezesseis, “O Apanhador No Campo de Centeio” não era mais o único livro de Salinger que integrava minha coleção (que, por sinal, estava em constante crescimento). Nesse mesmo ano, quando fiz dezessete, conheci os Glass e completei minha coleção do Salinger. Ver todos os livros lado a lado na minha estante fez com que eu me sentisse muito orgulhosa. De todos eles, meu favorito ainda era o primeiro que eu lera.


Salinger se tornou meu autor favorito quando eu li “A Perfect Day For Bananafish”, e foi então que meu caso de amor por ele se tornou o que é, mas nem mesmo See-more Glass era capaz de desbancar Holden Caulfield do lugar privilegiado que ele ocupava no meu coração.


Só então foi que resolvi conhecer esse querido melhor. Li sobre ele, vi vídeos a respeito de sua simbologia, procurei entendê-lo. E ele me entendeu de uma forma que pouquíssimos personagens conseguiram, mesmo sem querer. Era tudo o que eu precisava de um relacionamento.


Estou relendo “O Apanhador No Campo de Centeio” pela sei-lá-qual vez. Agora, sou mais velha do que o Holden, mas não acho que saiba muito mais da vida do que ele. Memorizei, ao longo desses seis anos, as manias e características dele, já sei prever o que ele vai falar, mas nada diminui o amor que eu guardei para o Holden. A cada página virada, aprendo mais alguma coisa que fugiu de mim nas primeiras lidas. Relê-lo é redescobri-lo.


De todos os moços da minha vida, Holden Caulfield, você foi o que ficou mais tempo. E olha, não quero me despedir nem tão cedo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Cruzadas

Estou convencida de que não vou mais te ver
Porque a vida insiste em dar e tomar de volta
Hoje você arruinou pelo menos dois lugares
Pelos quais sequer passou

Eu tinha muito para perguntar
Se já se adaptou, se sente calor
Fiquei atônita e sorri
“Você
gostou
daqui?”

Talvez sejam dimensões diferentes
Ou eu que espere demais
Talvez você esteja muito à frente
Ou eu que esteja te deixando para trás

Estou convencida de que não vou mais te ver
E memorizei seu sorriso e sua voz
Para o caso de você não reaparecer

(Pensando bem, a cidade não é lá tão grande assim
Quem sabe você não cruza a rua

Para depois cruzar em mim?)

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Você precisa de algo?

Quando o conheci, Forever Man ainda atendia pelo nome de "Someone Like You", e seus personagens principais eram Kurt, Blaine e Adele (sim, A Adele), e não Ren, Cole e Alegra. Passei alguns dias vidrada na história linda de amor que A.J. conta, apaixonada, devorando cada capítulo.

Agora, quase um ano depois de me apaixonar pela história pela primeira vez, tive a oportunidade de ler uma nova versão dela. E amei ainda mais.



Parte do projeto da Interlude Press, para publicar fanfics como livros, a famosa SLY virou Forever Man - uma menção à música-tema da história. Para ser publicada, a história precisou passar por diversas mudanças. Saem Adele, Kurt e Blaine, entram Alegra, Ren e Cole. Sai a Dalton, entra a St. Benedict. O final muda, mas não drasticamente.

Depois de acompanhar o processo de transformação da fanfic em algo mais concreto, só posso dizer que foi um trabalho extremamente bem feito. Por mais que tenha sido absurdamente trabalhoso para a autora, o resultado final ficou incrível.

Forever Man conta a história de dois melhores amigos, Ren e Cole, que quase se envolveram romanticamente, mas acreditam que desperdiçaram todas as chances. Ao se reencontrarem, por acaso, em Santa Fe - um lugar que Ren detesta com todas as forças -, os dois (em relacionamentos muito bons, obrigado) se vêem em uma situação complicada: será que as músicas que uma vez embalaram os dois serão capazes de reacender uma chama que parecia estar acabada? Será que os dois conseguem ficar juntos por apenas uma noite e seguir com suas vidas?

A história segue aquele clichê milenar de reencontro depois de muitos anos e uma nova oportunidade de estar juntos, mas...

Apesar disso, Cole e Ren te envolvem de uma forma que praticamente te proíbe de parar de ler. Sendo, ao mesmo tempo, divertido e dramático, sempre foi impossível não me apaixonar por cada pedacinho dessa história.

Desde o primeiro "do you need something?"* até o último ponto final, eu sofri com esses personagens, e vou sempre sentir muita falta de ficar sem fôlego por culpa do romance avassalador desses dois. E sim, Ren, eu preciso de algo: de mais livros bons assim.

*ver título da postagem

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Fangirlando: #DWWorldTourBR


Quem é whovian sabe que ontem foi um dia muito especial: o final da Doctor Who World Tour, no Rio de Janeiro! \o/

Eu estava lá, bem pertinho, e vou contar como foi essa experiência de fangirl.

Cheguei por lá cedo, e já tinha bastante gente se agrupando, conversando e surtando de leve. Conversei com alguns, conheci outros, tirei fotos com muitos cosplayers maravilhosos.

Vale mencionar que conheci o Briggs nesse meio tempo e só tenho coisas boas a dizer sobre ele. ♥

Enquanto esperávamos os portões abrirem, um cyberman saiu e foi passear entre a gente (spoiler: todos surtaram e gritaram e pediram pro cyberman matá-los), depois os colegas da BBC jogaram pulseirinhas e conversaram conosco.

Quando a casa abriu, cada um recebeu um botton escrito "I ♥♥ DW" antes de entrar para sentar.

O Ruy Balla foi o apresentador na nossa noite, e animou muito a gente antes da exibição do episódio, jogando camisetas e bolas gigantes na plateia, fazendo quizzes e votações, entrevistando pessoas da plateia...

Então chegou o momento mais aguardado: o episódio.

Moffat, quando entrou no palco depois, fez a gente prometer que não ia contar nada do episódio (mesmo que ele tivesse vazado na internet, assim, em parte totalmente), então vou obedecer e dizer apenas omg.

Preparem os lencinhos e a barriga para dar muita risada. Ainda sem spoilers, analisando o episódio, eu preciso dizer  que o Doctor do Peter é sensacional. É muito difícil eu gostar de um Doctor de cara, porque normalmente ele vem substituir alguém que eu amava, mas as minhas expectativas estavam altíssimas com relação ao 12, e ele superou qualquer uma delas.

Eu detestei boa parte da sétima temporada, achei repetitiva e cansativa demais. O primeiro episódio da oitava traz uma renovação de ares que a série estava precisando. Já estava bom de Matt Smith, era hora de mudar mesmo (sorry, Matt, I still love you).

Se todos os episódios da temporada forem como esse primeiro, não vejo motivos para reclamar.

Depois do episódio, o Ruy chamou ao palco os mediadores, e preciso dizer que o cara do Omelete precisa treinar o inglês. Em alguns momentos, o Peter ficava com cara de "que foi?" porque não entendia o que ele dizia. Conheci gente na fila que falava inglês melhor do que ele.

Muitas das respostas da noite me deixaram emocionada, principalmente quando os atores disseram o que Doctor Who significava para eles. A resposta do Peter me fez chorar.

Aprendi, durante o Q&A, que só existe uma resposta para a pergunta "qual é seu vilão favorito de Doctor Who?", e essa resposta é Daleks. Também aprendi que dizer "Sherlock" acende as luzes e que, se Capaldi pudesse, faria uma série sobre um alien misterioso que viaja através do tempo e do espaço. E Moffat estrelaria.

Os sotaques dos três são maravilhosos, principalmente o do Peter que, aliás, faz o Steven Moffat rir de passar mal.

Foi uma das (se não a) melhores noites da minha vida, e só tenho a agradecer e lembrar do carinho.

"A man of so many words; yet, you ask him for just one..." - Jenna Coleman



segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Personagem do dia: Elphaba

De vez em quando, eu vou postar uma personagem por dia, alternando entre femininas e masculinas, para apresentar para vocês minhas personagens favoritas da literatura.

Para começar, vou apresentá-los à melhor personagem de todas: Elphaba.

Elphaba teve sua primeira aparição em "O Mágico de Oz", como a Bruxa Má do Oeste, irmã da Bruxa Má do Leste (que morre quando a casa de Dorothy cai sobre ela). No livro de L. Frank Baum, ela não era verde, mas na adaptação cinematográfica da MGM de 1939, ela passou a ter essa cor. Desde então, a cor inusitada passou a ser uma das suas características mais marcantes.

Ilustração do livro "O Mágico de Oz"

Em "O Mágico de Oz", ela é retratada como uma bruxa má, que persegue Dorothy para obter vingança pela morte de sua irmã (e, é claro, para recuperar os sapatinhos da irmã).

Enquanto os livros de Baum não nomeiam a personagem ou mostram muito sobre sua vida, "Wicked", de Gregory Maguire, se preocupa em fazê-lo. O livro conta a história Oz pré-Dorothy, passando desde o momento em que Elphaba conhece Glinda (a Bruxa Boa) na faculdade até o fim da vida da bruxa verde.

Elphaba no filme "O Mágico de Oz"

Elphaba é extremamente revolucionária. Em "Wicked", ela foge da faculdade e vai viver uma vida reclusa porque não concorda com as políticas governamentais que ditam que os animais falantes não possuem os mesmos direitos que outras criaturas.

A vida caseira de Fabala (apelido carinhoso dado por seu pai) também não é lá muito boa. Acontece que a bruxinha é filha bastarda da mãe com um vendedor viajante, e tem uma irmã deficiente que é a preferida do pai. Apesar de poder assumir um cargo importante, o de Eminent Thropp, ela passa a infância sofrendo com o descaso dos pais.

Durante a faculdade, Elphaba e Glinda se tornam amigas, e conhecem personagens como Boq e Fiyero. O último é, aliás, o interesse romântico da protagonista.

Ilustração de "Maligna"

Esse foi um dos meus pontos favoritos de Wicked. No musical, o romance de Elphaba e Fiyero é bem aquela coisa clichê. No começo, ele é apaixonadinho pela Glinda, até que começa a passar mais tempo com Elphaba e percebe que é dela que gosta. No livro, a coisa é diferente. Fiyero, que é príncipe, já está casado quando Elphaba se envolve com ele. Os dois iniciam um relacionamento casual, sem culpa e muito romântico, apesar do adultério.

(A cena da primeira vez deles é uma das coisas mais lindas que eu já li nos meus anos na Terra).

Durante a história, Elphaba conhece o Mágico de Oz, e se enoja tanto com ele que começa a planejar atitudes com relação a seu ódio. Já no musical, o sonho dela é conhecê-lo, e eles se conhecem graças aos grandes poderes de Elphaba. De uma forma ou de outra, o Mágico é um mané.

Como existem algumas diferenças bem drásticas entre musical e livro com relação à atitude de Elphaba com Dorothy, acho melhor pular essa parte. O que importa é que, nos dois, em algum momento ela é boazinha com a garota.

No fim, Elphaba desafia a gravidade e some de Oz.



“- E ela conseguiu sair?
- Ainda não.”

Saiba Mais:

- O Mágico de Oz, de L. Frank Baum
Maligna, de Gregory Maguire

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Músicas icônicas de filme

Sabe quando você vê um filme e ele tem uma música tão marcante na trilha sonora que você não consegue desassociar a música do filme?

O post de hoje é sobre isso. 

Oh, Yeah! - Yello


Eu não conheço uma só pessoa que tenha visto Curtindo A Vida Adoidado e que não tenha lembrado por anos dessa música. E as cenas nas quais ela foi usada são tão icônicas que fica difícil esquecer. Para quem não sabia, ela é cantada pelo Yello e é divertidíssima até fora do filme.

Send Me On My Way - Rusted Roots


Essa música foi usada na trilha sonora de tanta coisa que é até complicado. Mas eu me lembro claramente dela em Matilda, naquela cena lindíssima do final, e nunca mais esqueci. No filme, essa era a parte que mais me fazia chorar, então ela tem um espacinho guardado no meu coração. Ah, a NASA usava essa música como despertador dos astronautas.

The Banana Boat Song - Harry Belafonte


Essa é uma das duas músicas icônicas (e épicas) de Beetlejuice, um dos meus filmes favoritos. Quem não lembra daquela cena do jantar, onde a senhora Deetz começa a cantar essa música por causa dos fantasmas, e todos os convidados a seguem? Eu sempre fui louca por essa parte, e rolo de rir sempre que vejo. Ah, fato engraçado: o sr Deetz é o mesmo ator que faz o professor do Ferris em Curtindo a Vida Adoidado.

Jump In The Line - Harry Belafonte


E essa é a segunda música icônica do filme. Outra que toca nas cenas do final, quando os fantasmas fazem Lydia dançar no ar. 

Where's My Mind - Pixies


Discussões comigo sobre Clube Da Luta poderiam durar para sempre. Sou absurdamente fã do filme, de tudo o que ele representa e de todas as possibilidades de discussão que ele traz à tona. Obrigo todo mundo a vê-lo sim, porque acho que é um daqueles filmes que todos deveriam assistir. Se você não assistiu, faça um favor a si mesmo, e o assista. 

Bom, com relação à música, eis o que faz dela icônica. Ela aparece em um dos momentos mais chocantes do filme, e sua melodia e letra tornam o choque do final do filme muito maior.


quarta-feira, 25 de junho de 2014

Filmes baseados em livros

Todo maníaco por livro tem um sério problema na hora de ir ao cinema ver a adaptação do seu livro favorito. Algumas vezes (quase sempre) o filme decepciona, e você sai da sessão com a sensação de que o roteirista não leu o mesmo livro que você.

Hoje, fiz uma lista com sete dos meus livros favoritos e suas adaptações cinematográficas, dando uma nota de fidelidade de 0 a 10 (0 sendo "nada a ver com o livro e 10 sendo OMG PERFEITO).

Vamos lá?


A Princesa Prometida
Direção: Rob Reiner
Roteiro: William Goldman
Ano: 1973 (livro)/1987 (filme)
Nota de fidelidade: 10
Nota: 10 (10 milhões, se depender de mim)


Já comecei com um dos melhores. O roteiro do filme foi escrito pelo próprio autor do livro, o que manteve praticamente todos os aspectos do livro, não deixando nada perdido. As falas icônicas, os momentos de risada...

No livro, o autor William Goldman finge ser o reeditor de outro autor, que teria escrito o livro "A Princesa Prometida". De acordo com o livro, todos os lugares e fatos foram reais, e o livro é apenas o registro.

A história do filme e do livro é a seguinte: Buttercup, uma garota jovem, vive numa fazenda em Florin. Ela se apaixona por uma espécie de "faz tudo" chamado Westley ("as you wish"), mas o relacionamento deles termina quando Westley é capturado pelo pirata Roberts, famoso por nunca deixar ninguém viver. Achando que o amado está morto, Buttercup aceita se casar com o príncipe, e a história segue a partir daí, com um trio que a captura e a chegada do pirata Roberts.

É hilário, excelente é super fiel ao livro.


Aconteceu em Woodstock
Direção: Ang Lee
Roteiro: James Schamus
Ano: 2007 (livro)/2009 (filme)
Nota de fidelidade: 9
Nota: 9

Eu gosto tanto desse livro e desse filme que já falei deles aqui, mas vou refrescar a memória. Eles contam a história do maior festival de música (e drogas) do mundo, do ponto de vista de Eliot Tiber, que foi abordado por Michael Lang para realizar o festival na sua fazenda. 

O filme tem um elenco maravilhoso e, apesar das diferenças básicas entre o filme e o livro, se mantém bem fiel. As ideias principais do livro não se perdem, mas é claro que o filme teria que ser um pouco modificado para não ter uma censura de +18.

Vale ver, e depois ler o livro para se aprofundar mais na história.


 O Grande Gatsby
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann
Craig Pearce
Ano: 1925 (livro)/2013 (filme)
Nota de fidelidade: 5
Nota: 9



A história é contada pelo vizinho de Jay Gatsby, Nick Carraway, que vê as festas loucas de Gatsby acontecendo e vai acompanhando a série de eventos que leva a um final surpreendente e inesperado. O livro é maravilhoso, pequeno, fácil de ler e um dos meus favoritos.

Vou confessar que tinha altas expectativas com relação a esse filme. Eu sou fã do Baz, apaixonada por Moulin Rouge, e "O Grande Gatsby" tinha uma trilha sonora magnífica, com vários favoritos, e um elenco espetacular.

Quando vi o filme, me decepcionei. Ee é um ótimo filme, mas não parece ser baseado no livro de Fitzgerald. A narrativa do livro é bem devagar, muito apaixonante, e Luhrmann tentou, a meu ver, repetir a dose de Moulin Rouge com uma narrativa agitada, rápida, que não condiz com a história.

Além disso, parece que ele leu outro livro mesmo.  Apesar do romance Gatsby/Daisy estar no filme, ele comete vários erros e dá importância a fatos de importância nenhuma no livro.

Dito isso, a atuação do Leonardo DiCaprio está sensacional, e vale o resto do filme.



(Para curar a dor do filme, sugiro que joguem: http://greatgatsbygame.com/)


Bonequinha de Luxo
Direção: Blake Edwards
Roteiro: George Axelrod
Ano: 1958 (livro)/1961 (filme)
Nota de fidelidade: 7
Nota: 10


 O papel mais icônico da Audrey ia ser da Marylin Monroe, se dependesse de Turman Capote, mas não é disso que eu vou falar.

Tanto o livro quanto o filme são maravilhosos, mas o filme muda o final original, acrescenta coisas que não estavam presentes no livro e altera partes importantes e personagens, então eu dei nota 7 mesmo.

Para quem não sabe, "Bonequinha de Luxo" é a história de Holly Golightly, uma acompanhante de luxo que sonha em casar com um homem rico e tornar-se atriz em Hollywood, motivo pelo qual se mudou para Nova Iorque. Só que ela tem alguns segredos, e a chegada de um vizinho (que é o narrador do livro) muda um pouco as coisas.



Laranja Mecânica
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick
Ano: 1962 (livro)/1971 (filme)
Nota de fidelidade: 5
Nota: 10



Eu esperei até ter lido o livro para ver o filme, e não me arrependi. Se tivesse feito o oposto, teria ficado muito triste. O filme se mantém fiel ao livro até Alex, o protagonista, sair da Staja. A partir daí, Kubrick começou a mudar pontos-chave da história, ressuscitar personagens, não mostrar o final original (o que muda a percepção de quem vê a respeito do protagonista)...

Mas a trilha sonora é uma das melhores e tem uma relação muito especial com o livro (que é nota 10 também, aliás), e as atuações são arrepiantes.

O livro é do Anthony Burgess, e é narrado por Alex, o protagonista, que fala a língua nadsat (adolescente) durante todo o livro. Ele e seu grupo de amigos saem às noites para, bem literalmente, tocar o terror pela cidade. Em um futuro distópico onde violência é algo quase natural, ele acaba sendo pego e levado para a prisão. Depois de dois anos por lá, vai para um experimento de "cura", e é aí que as coisas complicam.

Muitas perguntas e debates interessantes podem surgir depois de se conhecer a história.


Lolita
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Vladimir Nabokov
Stanley Kubrick
Ano: 1955 (livro)/1962 (filme)
Nota de fidelidade: 9
Nota: 10
 

Então, esse é mais um exemplo de como a participação do autor influencia na qualidade e fidelidade do filme. Nabokov, o autor desse que é um dos meus livros favoritos, escreveu o roteiro de uma forma que o filme não ficasse tão "provocante" quanto o livro, que foi inúmeras vezes proibido e/ou censurado.

Em 2011 (nossa, quanto tempo!) eu fiz uma resenha do livro, corre .

A escolha da Sue Lyon para Lolita foi uma das melhores escolhas de elenco que eu vi na minha vida. Ela foi maravilhosa do começo ao fim do filme, ao contrário da Lolita do filme mais recente.

Aliás, eu não gosto do filme de 1997.



 Rapidinhas (bom, razoável ou ruim)

A Culpa É Das Estrelas: bom
Um Dia: bom
As Vantagens de Ser Invisível: bom
Os Miseráveis (2012): razoável











sábado, 31 de maio de 2014

Expectativa de vida de seis meses e um dia

Alguns filmes esse ano parecem estar disputando qual vai me fazer chorar mais. Os campeões até agora são "Dallas Buyers Club" (Clube de Compras Dallas) e "The Normal Heart" (que manteve seu título em inglês).

Então, depois de muito pensar sobre o que - e como - escreveria aqui, e em homenagem à estreia de The Normal Heart na HBO Brasil, decidi fazer uma postagem sobre os dois filmes.

Além das frases marcantes e da profundidade dos filmes, eles são extremamente fortes, e deixam seu coração na boca e seus pensamentos a mil.

Preparem os lenços e os corações.



Dallas Buyers Club foi lançado primeiro, e acho que praticamente todo mundo sabe que esse filme existe. Além de um elenco super estrelado, ele garantiu Globos de Ouro, Oscars (sim, no plural) e muitos outros prêmios.

O filme é baseado em um história real, e conta a história de Ron Woodroof (o Matthew McConaughey, que está irreconhecível no papel), um peão de rodeio que descobre estar com AIDS.

A questão principal do filme é a luta de Ron com dois problemas: as drogas contra o HIV ainda não tinham sido aprovadas nos EUA, e ele acabava tendo que ir buscá-las em outros países, ilegalmente. O outro problema é a aceitação. Na época, a AIDS havia acabado de ser descoberta, e havia um grande preconceito com relação à doença, porque era "doença de gay", e essa era a maior ofensa de todas.

O Texas, que até hoje é um estado conhecido por sua homofobia, na época era muito pior. Ao longo do filme, Ron vai perdendo amigos, emprego, e sua vida vai desmoronando à medida que a doença avança (ele tem expectativa de vida de mais seis meses, apenas).

Mas não é só o Ron que faz o filme não. Ao seu lado, ele tem a linda Rayon (vivida pelo Jared Leto, que está simplesmente magnífico no papel), uma transsexual que também tem AIDS e, assim como ele, quer ajudar a todos que não têm como conseguir remédios. Além disso, ele conta com a ajuda de uma médica, a doutora Eve Saks (Jennifer Garner).

O título do filme vem da ideia que surge da necessidade de remédios: montar um "clube de compras" dos remédios contra o HIV. Era uma prática frequente nos EUA, na época. Depois de comprar ilegalmente os remédios, os fundadores de um clube de compras cobravam um valor mensal para quem precisava, de fato, ter acesso a esses remédios.



Depois de ver o filme (chorando feito louca, como é habitual), o que ficou para mim não foi apenas a raiva e muito menos a indignação com o que o governo fazia para não permitir a liberação das drogas, mas sim o crescimento do Ron. Ao longo do filme, Woodroof, que era homofóbico, transfóbico e racista, começa a mudar seus pré-conceitos com relação a quase tudo. É claro que Rayon influencia monumentalmente nessa mudança dele e, se no começo do filme Ron cospe xingamentos para Rayon, no final os dois são amigos.







The Normal Heart, que vai estrear hoje pela HBO Brasil, é baseado em uma peça da Broadway. Não, não é um musical. A peça homônima estreou nos palcos em 1985, off-Broadway, e depois foi para os palcos principais, ganhando um revival em 2011.

Estreou nos EUA no dia 25 de maio e já recebeu diversas indicações ao Critic's Choice.

A peça/filme é semi-auto-biográfica, e foi escrita por Larry Kramer. Em termos de ordem cronológica da história, esse filme vem antes de Dallas Buyers. TNH se passa entre 1981 e 1984, enquanto DBC se passa logo depois, em 1985.

O filme conta a história de Ned Weeks (Mark Ruffalo, simplesmente PERFEITO) e seu grupo de amigos e sua luta contra a AIDS e a negligência do governo americano.

A segunda parte do título dessa postagem (e um dia) veio de um dos personagens desse filme.

Se em Dallas Buyers o foco é a luta por remédios, em The Normal Heart o foco é a luta por reconhecimento. Na época, tratavam a AIDS como um "câncer gay", não havia nenhum relato de casos da doença em heterossexuais ou lésbicas, e ninguém sabia exatamente o que causava ou como tratar.

Em Nova York, o grupo de Ned (a maior parte com AIDS ou com namorados com AIDS) se une a uma médica (Emma Brookner, interpretada por Julia Roberts) que atendia uma quantidade enorme de casos da doença e, juntos, se esforçam para obter qualquer tipo de ajuda.

O elenco de TNH também é absurdamente estrelado. Além de Mark Ruffalo e Julia Roberts, Jim Parsons (sim, o Sheldon que, aliás, me surpreendeu extremamente com a sua atuação), Taylor Kitsch, Matt Bomer (a melhor atuação do filme, se me perguntarem), BD Wong (o Dr Huang de Law & Order: SVU ) e Jonathan Groff são alguns dos nomes que integram esse elenco sensacional.

Na minha opinião, esse filme irrita mais. A raiva que ele deixou em mim foi muito, muito maior do que Dallas Buyers Club. Já aviso que o número de mortes durante o filme é incontável, e são momentos muito tristes.

"Você chora, e chora, até achar que não vai chorar mais, e então chora um pouco mais"




A trilha sonora do filme também é maravilhosa, recheada de músicas boas e clássicas e muito bem escolhidas.

Não tem muito o que dizer sobre o filme sem dar spoilers, então vou deixar uma curiosidade para ser lida depois de ver o filme (é sério, spoilers!); no revival de 2011, o autor Larry Kramer ficava do lado de fora do teatro entregando uma folhinha com a seguinte mensagem:

POR FAVOR SAIBA

"Obrigado por ter vindo ver nossa peça.

Por favor, saiba que tudo em The Normal Heart aconteceu. Essas eram e são pessoas reais que viveram e falaram e morreram, e são apresentadas aqui da melhor forma que pude. Muitas mais morreram desde então, incluindo Bruce, cujo nome era Paul Popham, e Tommy, cujo nome era Rodger McFarlane e quem se tornou meu melhor amigo, e Emma, cujo nome era Dr. Linda Laubenstein. Ela morreu depois de um retorno da polio e outra visita a um pulmão de ferro. Rodger, depois de construir três agências gays/de AIDS do zero, cometeu suicídio em desespero. Em seu leito de morte no Memorial, Paul me chamou (nós não nos falávamos desde nossa última briga nessa peça) e me disse para nunca parar de lutar.

Quatro membros do elenco original também morreram, incluindo meu grande amigo Brad Davis, o Ned original, quem eu conhecia desde praticamente o momento que ele saiu do ônibus da Flórida, um garoto tímido tão determinado a se tornar um bom ator, o que ele se tornou.

Por favor, saiba que a AIDS é uma praga mundial.

Por favor, saiba que não há cura.

Por favor, saiba que depois de todo esse tempo a quantia de dinheiro sendo gasta para procurar uma cura ainda é minúscula, ainda quase invisível, ainda impossível de localizar em qualquer verba nacional, e ainda completamente não-coordenada.

Por favor, saiba que aqui na América os números de caso continuam a subir em todas as categorias. Em boa parte do resto do mundo - Rússia, Índia, Sudeste da Ásia, África - os números de infectados e mortos são tão grotescamente altos que são raramente reconhecidos.

Por favor, saiba que todos os esforços para prevenir e educar continuam no registro infinito de falha.

Por favor, saiba que não há ninguém no comando dessa praga. Essa é uma guerra para a qual não existe um general, e nunca existiu um general. Como você pode ganhar uma guerra sem ninguém no comando?

Por favor, saiba que começando por Ronald Reagan (que não diria a palavra "AIDS" publicamente por sete anos), todos os presidentes não disseram nada e não fizeram nada ou, no caso do presidente atual, diz as coisas certas e então não as faz.

Por favor, saiba que a maior parte dos medicamentos para HIV/AIDS são desumanamente caros e o financiamento do governo para que os pobres os obtenham está diminuido e normalmente indisponível.

Por favor, saiba que as companhias farmacêuticas estão entre os pesadelos mais maléficos e gananciosos já soltos na espécie humana. Qualquer 'pesquisa" na qual embarcam é calculada apenas para encontrar novas drogas para nos manter, só um pouco, vivos, mas não nos fazer melhorar ou, deus os livre, curar-nos.

Por favor, saiba que uma quantidade enorme de pessoas morreu desnecessariamente e vai continuar a morrer desnecessariamente por causa de qualquer ou todo ponto exposto anteriormente.

Por favor, saiba que o mundo sofreu pelo menos alguns 75 milhões de infecções e 35 milhões de mortes. Quando a ação da peça que você acabou de ver começa, eram apenas 41.

Eu nunca vi tantas coisas erradas como essa praga, em todos os seus disfarces, representa, e continua a falar sobre todos nós."