terça-feira, 10 de julho de 2012

A efemeridade da memória

Começa com um rosto, ou uma data, ou até mesmo um pedido que costumava fazer em uma lanchonete. Se transforma em algo maior, aos poucos, imperceptivelmente.

Qual era mesmo o nome daquela menina que estudava comigo no Fundamental?

A mente esquece, apaga, porque não há a necessidade de lembrar, é efêmero, passa.

Então você se vê perdido, não se lembra como chegar na casa em que morou quando era criança. Nem sabe se o lugar onde você está é o mesmo em que morava.

Aos poucos, fatos aleatórios vêm, sabe-se lá de onde, e você conta a mesma história que contava há dias, semanas, mas algo nela está errado, trocado, não é exatamente o que aconteceu.

A verdade é que você esqueceu.

Esqueceu que brincava num balanço nos fundos da sua casa, esqueceu que uma vez teve catapora e foi para casa mais cedo. Esqueceu da horta, do barulho do rio nos fundos do quintal e da briga dos pais, abafada pelo som das suas próprias lágrimas. Esqueceu o nome daquela professora que te ensinou a contar de 1 a 10, daquela pessoa que você achava que amava na quarta série.

Para e reflete, percebe que nada parece estar exatamente como você se lembrava, que enquanto você se preocupava em criar novas memórias, as velhas te escapavam.

E então, se lembra.

Um dia, você amou.


Ariel A. Carvalho

Nenhum comentário:

Postar um comentário