quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Somos os novos beats?

No último mês, pensei muito na minha geração. Algumas coisas que ouvi e li de amigos me fizeram refletir a respeito de nós. Começou com um artigo a respeito do Tinder e terminou com um texto maravilhoso da Débora Nisenbaum.

Enquanto remexia nos meus pensamentos, percebi que as características da minha geração me lembravam muito uma outra geração. De cara, achei que pudesse ser a geração woodstockiana, por essa vontade de morrer cedo fazendo algo marcante, por querer ser o oposto dos pais...

Mas peguei, por acaso, meu "Howl", do Allen Ginsberg, para ler, e cada palavra foi um soco no estômago. Estava lendo sobre os anseios das pessoas da minha faixa etária!

Seríamos nós os novos beats?



A geração beat existiu na década de 1950, embora os "criadores" do movimento, Allen Ginsberg e Jack Kerouac, não adotassem o termo. Eles eram, assim como os woodstockers, uma geração que buscava ser justamente o oposto de tudo o que seus pais eram. Percebo, na minha geração, a mesma tendência: não queremos repetir os erros de nossos pais, a homofobia, os preconceitos.

As semelhanças, entretanto, não param por aí. Os beats apreciavam estilos musicais considerados underground, como o jazz. Hoje, o indie ocupa esse lugar. Quanto menos conhecida uma banda, mais cool você é por gostar.

Havia uma grande preocupação em eliminar os tabus ao falar de sexo (gay ou hétero) e drogas, e um descontentamento maior ainda com o capitalismo. Além disso, os maiores representantes do movimento beat possuíam educação formal, mas prezavam pela cultura e arte feita por qualquer um.

No que diz respeito à escrita, os poetas da época queriam fugir dos métodos tradicionais e criavam novas formas de escrever. Apesar de não haver nada escrito dizendo que eles desejavam morrer cedo, os textos que escreviam deixavam claro que a morte não era preocupação.

O que percebo é que somos muito semelhantes. Queremos escapar dessas amarras da geração anterior, provar que somos muito mais do que parecemos ser, fugir dos rótulos e amar livremente. O Tinder está aí, o maior exemplo dessa libertação e dessa opção de amar (e transar) com quem quisermos. Ao mesmo tempo, não ligamos para o que pensam de nós, como nossos amigos beatniks, e falamos o que pensamos e como pensamos, sem medo da censura.

Estamos insatisfeitos com a nossa realidade, achamos que viver da arte é mais importante do que passar toda a vida fazendo algo que não gostamos, defendemos a liberdade de expressão. Boa parte de nós usa drogas, e luta pela legalização delas, bebe e fuma.

Não estou dizendo, de forma alguma, que essas mesmas inquietações não existiram em outras gerações. É que, ao meu ver, a nossa e a beat são as que as apresentam de forma mais acentuada. 

Onde quer que estejam, Allen e Kerouac devem estar satisfeitos em saber que seu legado não ficou apenas no que escreveram: estamos fazendo o que eles fizeram há alguns anos atrás. A diferença é que temos a internet dessa vez, o que nos torna uma voz mais forte.

Façamos bom uso dela.


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